Quando o tempo e o espaço são colocados entre parênteses: efêmero A cidade é tambémtudo aqui- lo que eu não conheço. Já notou que sabemos tudo sobre o habitat ideal dos gorilas, girafas, chimpan- zés e até dos ornitorrincos, mas que quase não temos conhecimento so- bre o que seria um bom lugar para o homo sapiens viver? 2 A cidade é lugar de partida. De retorno. De meio. De tudo e até de um pouco mais. Assim, dizem alguns, confirma-se a hipótese de que cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças preenchidas por cidades particulares 3 . Por vezes, redundan- tes. Por vezes, coincidentes. O fato é que viver em uma cidade significa habitar o lugar. Ter presente a terri- torialidade. A maior e mais louvável invenção humana, “o passado, o presente, o futuro”, divide-se por camadas de tempo assimétricas e até em contrassenso. Mas o que é o efêmero? O tempo que passa? O tempo codificado em registros? A memória já saturada de informa- ções? Eis o efêmero urbano: toda a novidade parece convencer de que é preciso esquecer de tudo para recomeçar. Impossível reco- meçar o presente sem o passado porque a cada segundo já não se tem o primeiro. Então, será que tudo pode ser efêmero menos a imaginação? Eu creio na eternidade da arte, única permanência da nossa transitória individualidade. 1

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