revista Sesc Arte e Educação
artes na educação infantil Escute o artigo Revista Sesc de Arte Educação 10 11 OLHARES QUE QUESTIONAM E IMAGINAM O poeta Manoel de Barros nos convida a escovarmos o pensamento lógico que engessa e fragmenta o olhar do adulto sobre o mundo. Não temer as texturas, temperaturas e cores daquilo que desconhecemos. No poema Achadouros, por exemplo, ele afirma “Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande [...]. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade” (BARROS, 2018, p.31). Com essas palavras, o poeta nos su- gere que sejamos mais curiosos para conseguirmos capturar e apanhar os desperdícios, ou seja, aquilo que co- tidianamente é desconsiderado pelos olhares fadigados e que, no campo de visão da criança, pode ser um elemen- to rico de imaginação. Ao buscar ins- piração em suas experiências infantis, ele nos provoca a conhecer a vida por lentes que busquem transver e enxer- gar as coisas para além do que nos pa- recem à primeira vista. Olhar, sentir, questionar, brincar e ima- ginar são verbos interessantes para quem deseja se aventurar no universo poético da infância, que percebe que o quintal pode ser maior do que a cidade, visto que as experiências são medidas pela relação de intimidade que temos com o mundo e não pelo tamanho das coisas em si. Uma concha, uma pedra, uma folha aos olhos de uma criança podem ganhar diferentes significados e funcionalidades para brincadeira. Por isso, acreditamos que, ao interagir com diferentes elementos naturais, as crianças realizam uma complexa ex- periência educativa, procurando, em suas subjetividades, entenderem tais elementos por meio de pesquisas que interrogam suas características, textu- ras e formas, que buscam compreen- der a biologia, a história e a cultura que permeiam aqueles elementos e que re- fletem sobre as conexões que coexis- tem entre eles, nós e o espaço. Sendo assim, é fundamental que, enquanto educadores, também curiosos, possa- mos oferecer às crianças vivências de qualidade, que instiguem e agucem sua curiosidade na elaboração de dife- rentes respostas. A fotografia pode ser um dispositivo bastante interessante para o desenvol- vimento de pesquisas com as crianças. Por meio dos registros feitos pelo olhar infantil, é possível conhecermos um pouco sobre o que lhes desperta inte- resse e curiosidade. Promover um es- paço de partilha para que a turma con- siga conhecer as imagens capturadas pelos colegas pode também ser uma boa entrada, pois o ângulo em que uma pedra foi fotografada pode con- vidar os outros olhares a interpretar aquela imagem em outros contextos. De acordo comGobbi (2017, p. 97), tan- to as fotografias, quanto os desenhos infantis “[...] podem vir a estabelecer um diálogo entre os mundos infantil e adulto, compreendendo as crianças como criadoras e partícipes desse uni- verso representativo até então preva- lentemente adulto”.
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