revista Sesc Arte e Educação

artes na educação infantil Escute o artigo Revista Sesc de Arte Educação 14 15 S egundo Gisela Wajskop (2012), é importante compreender- mos que, a partir do brincar, as crianças ressignificam seus modos de ser, estar e de se relacionar com e no mundo. O ato de brincar envolve o corpo inteiro da criança e possibilita o desenvolvimento da imaginação, da experimentação de diferentes papéis pelo jogo simbólico ou mesmo de se relacionar com seus pares na convi- vência em sala. O brincar livre e não estruturado proporcionado pela inte- ração com os elementos da natureza é constituinte para a criança, ou seja, a auxilia a compreender seu lugar no mundo e na relação com outros se- res, espécies e espaços. No livro Saberes da Floresta, Márcia Kambeba nos presenteia com o poe- ma Crianças da Beira, que fala sobre a infância numa perspectiva indíge- na, destacando as aprendizagens e experiências corporais que a criança se coloca no diálogo com o rio, com os animais da mata e com a medici- na natural (KAMBEBA, 2020, p. 154- 155). As cosmologias indígenas que representam a complexidade de sabe- res dos povos originários ao buscarem expressar a origem do universo e da vida humana reforçam a inter-relação entre a humanidade e a natureza: não há vida sem natureza. Nesse sentido, é imprescindível que, ao organizarmos sessões de aprendizagem ou mesmo ao pensarmos a seleção de materiais para constituição de espaços para brincar na sala e área externa, consi- deremos a proporção entre brinque- dos plásticos e elementos naturais. Não tenha pressa, pois essa nova configuração pode ser elaborada aos poucos, em uma saída de campo que possibilita que as crianças possam co- letar alguns formatos de folhas e se- mentes ou em outra ocasião na qual arrecadem pedras. Assim, coletiva- mente, o espaço poderá ser consti- tuído de modo afetivo e colaborativo pelo grupo. DESCOBERTAS DO COTIDIANO – CONEXÕES ENTRE ARTE, EDUCAÇÃO E NATUREZA Como bem nos lembra Diana Tubenchlak (2020), é importante garantirmos a presença de elementos naturais que falem sobre a região em que a escola está situada. No entanto, como adverte a autora, é importante não confundirmos as coisas, já que trabalhar com materiais advindos da natureza não deve ser sinônimo de “desflorestamento”. T endo em vista a consientização dos impactos gerados pela hu- manidade no ambiente, é im- portante pensarmos essa coleção de elementos de forma desapressada, possibilitando que a coleta aconteça a partir do que já estiver disponível no solo; a natureza é generosa e nos faz convites para brincar deixando suas preciosidades no chão, próximas de nossas mãos. Diana Tubenchlack reforça a “importância da diversi- dade de materiais, como: sementes, flores, galhos, areia, frutos, pedras, terra, argila, pedaços de madeira ou bambu [...]. Como qualquer outro tipo de material, a presença atenta dos adultos é imprescindível em rela- ção aos cuidados [...] próprios dessa faixa etária” (TUBENCHLACK, 2020, p. 45). Nesse sentido, como bem nos lembra o Sesquinho Departamento Regional (Porto Alegre), as proposições e inte- rações com os bebês a partir das suas relações com elementos da natureza são de suma importância para o pro- cesso de investigação pedagógica promovido em contextos que aco- lhem e sustentam as curiosidades, as descobertas e os interesses presen- tes na infância.

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