revista Sesc Arte e Educação

artes no ensino fundamental Escute o artigo 30 31 Revista Sesc de Arte Educação ENSINO FUNDAMENTAL: EXPERIÊNCIAS CONECTADAS À VIDA A escola é um espaço privilegiado de relações e interações, no qual é possível dialogarmos com opiniões próximas às nossas e também ouvirmos posicionamentos que tragam novos vieses e nos convidem a analisar assuntos a partir de diferentes perspectivas. Olhar de um outro prisma, observar, escutar, acolher outra forma de pensar o mundo, por exemplo, podem ser exercícios importantes para uma convivência sadia e respeitosa. Todas as experiências perpassam, acontecem com e pelo corpo, afe- tando-o de alguma forma. De acordo com a psicanalista e professora Hélia Borges (2019, p. 53-54), é pelo saber que a arte carrega em si que entramos em “[...] contato com aquilo que ainda não pode ser nomeado, mas que se apreende pelas movimentações, pe- los ritmos dos corpos, como na dança, por exemplo”. As aprendizagens ad- quiridas por meio da arte são geradas por um viés que pensa sensivelmente com o corpo todo. Nos anos iniciais do Ensino Funda- mental, a promoção de práticas edu- cativas que tragam oportunidades de diálogo, pesquisa e construção de hipóteses sobre as características dos corpos infantis que habitam a esco- la se tornam um eixo imprescindível para que as crianças também cele- brem a diversidade de culturas que ocupam o espaço plural que é a esco- la. O brincar, por sua vez, possibilita uma experiência ao mesmo tempo in- dividual e coletiva de reconhecimento e conscientização sobre suas ações e como elas refletem na relação com o outro. De acordo com Isabel Marques (2012, p. 32), é importante lembrar que “o corpo está presente em prati- camente todas as manifestações lúdi- cas do ser humano. O corpo faz parte e é elemento primeiro para realização das possibilidades de conhecimento, percepção, interação e até mesmo de transformação das brincadeiras [...]”. Por isso, investigar diferentes formas de utilizar o espaço da sala de refe- rência na geração de aprendizagens desafiadoras se faz importante para entendermos a educação de um modo conectado à vida. As Escolas Sesc de Ensino Fundamental em Novo Ham- burgo e Santa Maria buscaram investi- gar diferentes modos de experimentar o ato de desenhar: no chão, debaixo da mesa, perto da janela, a partir da som- bra projetada no espaço externo. Em um segundo momento, a pesquisa le- vou as crianças a selecionar diferentes materialidades para desenhar: a rigi- dez dos galhos, na visão das crianças, possibilitou uma associação à estrutu- ra óssea do corpo – pois o galho, as- sim como os ossos do corpo, “é forte, mas também pode quebrar”. Dentre os materiais coletados, apareceram fo- lhas de árvores secas, cascas e galhos de árvore, além de sementes e grãos. A forma curiosa com que as crianças olham para os elementos trazidos para sala de referência possibilitou aos adul- tos conhecer um modo de criação de composições de linhas e formas que ora apareciam pela verbalização de histórias, ora pelo simples gesto de aproximar, equilibrar, entortar, trançar, colar, furar. Os galhos secos dançam nas mãos ágeis das crianças da Es- cola Sesc de Ensino Fundamental de Novo Hamburgo, transformando-se em bonecos de palito, em batutas de maestros musicais ou mesmo em va- rinhas mágicas. As sementes e grãos trouxeram para as crianças da Escola Sesc de Ensino Fundamental de Santa Maria um modo diferente de produzir autorretratos. Pesquisas sobre os con- trastes de cores e de formas desafia- ram a comunicação entre olhar/mão. A concentração em preencher uma pe- quena lacuna comumgrão de feijão, por exemplo, trouxe maior atenção e paciência às crianças que, quan- do desenhavam no papel, tinham mais destreza e velocidade. Por isso, desenhar com grãos e semen- tes exercitou uma relação de maior proximidade com esses elementos tão diferentes em forma, textura e peso. A possibilidade de umedecer o autorretrato possibilitou, com o passar do tempo, acompanhar mo- dificações no rosto desenhado, que brotava e germinava. Um desenho repleto de vida que aos poucos se desfazia do preto, deixando surgir o amarelo, o marrom, e, finalmen- te, dissolvendo-se em tonalidades de verde. REFERÊNCIAS BORGES, Hélia. Sopros da pele, murmúrios do mundo. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2019. MARQUES, Isabel A. Interações: crianças, dança e escola. (Coleção InterAções). São Paulo: Blucher, 2012.

RkJQdWJsaXNoZXIy NjI4Mzk=