revista Sesc Arte e Educação

arte em espaços não formais Escute o artigo 36 37 Revista Sesc de Arte Educação A cidade nos acolhe e, por vezes, pare- ce que também nos escolhe! Sentir-se pertencente a um território que não é aquele em que você nasceu, conectar- -se com a cultura e as histórias locais, entender o fluxo e os interesses da ci- dade parecem alguns dos pequenos convites diários que a cidade sensivel- mente nos convoca – algumas vezes mais a apreciação e, outras, a ação. Em 2019, pela proposição de “artistar pela cidade”, os grupos de idosos do Pro- grama Sesc Maturidade Ativa em todo Rio Grande do Sul foram convidados a se relacionarem com as artes mais proximamente. Os processos criativos e artísticos pautaram-se pela interdis- ciplinaridade, incentivando a autoria e protagonismo dos idosos aproximan- do-os da cultura e da história do lugar onde vivem. Ao cercarem-se dos ele- mentos e símbolos que constituem a cultura visual de suas cidades, os gru- pos elaboraram diferentes experiên- cias estéticas e artísticas distribuídas em oficinas, palestras e ações sociais a partir do contato com artes visuais, dança, música, teatro e literatura. Referências: IMBROISI, Margaret; MARTINS, Simone. O que é Yarnbombing?. História das Artes, 2021. MOLL, Jaqueline. Caminhos da Educação Integral no Brasil: Direitos a outros tempos e espaços educativos. Porto Alegre: Editora Penso, 2012. SESC. Proposta Educativa Criar Sesc. Rio de Janeiro: Departamento Nacional, 2020. Acesseocatálogode fotos produzidopelosparticipantes doProgramaSescMaturidade Ativaem2019. Ao observarem as habilidades arte- sanais que sabiam, os participantes foram incentivados a abondar as re- ceitas de blusões e mantas que ma- tematicamente contavam os pontos e se arriscarem a usar o trabalho manu- al por um outro viés que se relaciona- ria com a cidade a partir de peque- nas intervenções. Rio Grande, Novo Hamburgo e Lagoa Vermelha, entre outras cidades, se interessaram pelo trabalho de algumas artistas contem- porâneas como Joana Vasconcelos, Anne Galante e Karen Dolorez, que por exemplo, trabalham com o yarn- bombing. Em outras palavras, essas artistas produzem intervenções ar- tísticas urbanas revestindo árvores, postes, monumentos e diversos es- paços da cidade com fios de linha tricotados ou crochetados manual- mente ponto a ponto, inclusive como feito em Rio Grande, com resíduos de sacolas plásticas coletados pelo gru- po. Em diálogo com as gestões mu- nicipais, os idosos elegeram alguns espaços para produzirem sua “explo- são de fios coloridos”, que como bem explicam IMBROSI e MARTINS (2021), trouxeram às ruas mais cor, alegria e até mesmo provocavam o público passante a olhar com mais atenção alguns pontos mais “invisibilizados ao olhar”. Os idosos de Quaraí e Três de Maio nos evidenciam que encantar-se com a cidade e exercitar olhá-la por ou- tros ângulos não tem limite de idade. Revisitar as praças e monumentos com olhares estrangeiros mesmo vi- vendo nela há mais de 40 anos pode ser um exercício bastante prazeroso, que através da fotografia auxilia a elaboração de novas percepções da cidade, gerando convites para atitu- des de cuidado com a cidade, como por exemplo, a revitalização e ado- ção de uma praça buscando gerar maior conscientização da popula- ção local sobre as responsabilidades com a manutenção e cuidado com o território.

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