revista Sesc Arte e Educação
Relatos de experiência Escute o artigo 44 45 Revista Sesc de Arte Educação O movimento é aquilo que se dá entre, pois en- tre uma pose e outra, há movimento. As mudan- ças e transformações são movimentos, ele está em tudo. Inclusive, quando dizemos que estamos para- dos, internamente estamos em movimento. Portanto po- demos dizer que, o movimento constitui nossa nature- za e nos coloca em relação com outras naturezas. Esse constante movimento da vida, chamo de corpo a dançar. São moveres que podem nos afetar, produzir sensações, ativar sentimentos e emoções, alimentando os processos artísticos e educadores. Isadora Duncan (1877-1927) foi uma artista e precursora da dança moderna. Ela se inspirou nos movimentos da nature- za para uma dança e vida livres. Hoje podemos nos inspirar nela e pensar um corpo que se coloca a dançar em casa, no quintal, no quarto, na escola, ao redor de uma árvore, perto de flores... Podemos começar imitando a natureza e, aos poucos, ir transformando essa imitação, ou seja, criando. Podemos definir ritmos, fazer sons, escolher as direções e velocidades, dar um sentido específico ou até contar uma história com os movimentos dançantes. Basta experimen- tar, imaginar, explorar possibilidades, fazer escolhas e, as- sim, compor uma dança. Podemos artistar uma vida! Assim como este corpo- -professor, artista e pesquisador que aqui relata como vem exercitado dançar a vida com movimentos que passam a compor suas aulas, pesquisas e processos artísticos. Um corpo a dançar que pensa a vida, a natureza, as ex- periências diversas como disparadoras para criar, dançar, aprender e ensinar. Precisamos de um corpo a dançar que busque uma educação criadora. Autor Wagner Ferraz é doutor em Educação em Ciências, Mestre em Educação e Licenciado em Dança pela UFRGS. Licen- ciado em Pedagogia pela UNINTER. Autor e organizador de vários livros sobre corpo, educação e dança. Coordenador do Estudos do Corpo, onde se de- dica à formação artística e docente. ferrazwagner@gmail. com / www.estudosdocorpo.com Wagner Ferraz AUTORES: Texto “Somos: música em estado de encontro” – currículos dos autores Bianca Oliveira Cardoso (SMED/SL): Professora e assessora pedagógica do projeto “Barulhar a música da infância” na SMED São Leopoldo/RS. Mestranda em Educação PPG Educação - Unisccom, bolsa PROSUC/Capes. Deia Alencar (Piá –UFRGS): Acadêmica do curso de Pedagogia da UFRGS. Participante do Programa de Extensão Piá. Coordenadora do Ponto de Cultura Biguá em Guaíba/RS. Dulcimarta Lemos Lino(FACED/ UFRGS): Pianista e professora de Educação Musical na Faculdade de Educação da UFRGS. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Escuta Poética e do Programa de Extensão Piá 2021, que realiza concertos e oficinas musicais para crianças em territórios educativos. Coordenadora do Projeto Barulhar: a música na infância na SMED em São Leopoldo/RS. Matheus Camilio Viana (Piá UFRGS): Acadêmico no curso de Música na UFRGS. Participante do projeto Piá. Paula Emenke (SMED SL): Bióloga, pós-graduada em Ludopedagogia e Literatura Infantil, professora de Educação Infantil em São Leopoldo. Integrante do grupo de pesquisa Escuta Poética (UFRGS) e do projeto Barulhar: a música da infância, na Escola Municipal de Arte Pequeno Príncipe em São Leopoldo/RS. Tais Luz Cortinaz (SMED SL): Pedagoga e professora de Educação Infantil. Integrante do projeto Barulhar: a música da infância na Escola de Arte Pequeno Príncipe em São Leopoldo/RS. O presente relato pretende compartilhar com profes- sores da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental narrativas construídas semanalmente nas conversações em criação experimentadas entre docen- tes do Grupo de Pesquisa Escuta Poética (FACED/UFRGS) e da Secretaria Municipal de São Leopoldo. A pandemia possibilitou um tempo imprevisível e mais flexível de “estar juntas on-line” para pensar a escola e a docência, além de nos expor “as fragilidades de nossas democracias e de seus (im) previsíveis direitos prometidos (SKLIAR, 2019, p.14). Com Krenak (2019, p.67) fomos imaginando “ideias para adiar o fim do mundo”, no sentido de reordenar relações e espaços de novos entendimentos sobre como poderíamos nos relacionar com aquilo que se admite ser a natureza, entendendo que também somos natureza. Corpos que to- cam a vida para produzir sentidos e provocar feituras cria- tivas no/do cotidiano escolar a partir da dimensão musical. Entendemos que é preciso silenciar para ouvir as vozes da floresta ecoando em nossa alma. Escutamos a floresta de nossa casa, de nossa janela, de nosso pátio, de nossa praça, de nosso rio, de nossa cidade. Cada movimento de nosso ser ancestral nos ajudou a ver e colecionar a cor do outono com suas folhas, suas sementes, seus frutos. Conhecemos a al- deia Por Fi Ga em São Leopoldo, ouvimos suas histórias, seus cantos, sua memória coletiva-individual e nos entregamos a experimentar sua música. Essa feitura corporal que é inteira, sem fronteiras, voz imaterial de um povo que dança com pas- sos firmados, com pintura corporal, com uma diversidade de adornos e instrumentos musicais. A cosmologia nos ensinou que o canto faz bem à alma e ao coração, “se estamos tris- tes cantamos; se em conflito em defesa de nossos direitos, cantamos; se celebramos a vitória, cantamos para agradecer” (KAMBEBA, 2020, p. 89). Aprendemos que as Cantigas de Makuru, são suas canções de ninar, entoadas para que as crianças possam sonhar, vi- sitar terras distantes e receber cantos das divindades. Existe música para chamar o espírito da cobra, que abre novo tem- po de reflexão. Outra pra dar conselhos e conduzir os pas- sos do povo, que chama o curupira. Escutamos o canto do gwirá (joão-de-barro), tupi da terra ancestral que a liberda- de toca e esculpe a vida do alto da k’uya (casa). Nessa com- vivência, fomoscompartilhandonaplataformadigitalcomnos- sos alunos, diferentes pedacinhos de nossos saberes e fazeres. Ao lado, destacamos algumas dessas narrativas: MÚSICA? Cacique WOIA, da etnia Xokleng, nos diz que a música é nosso símbolo sagrado de sabedoria. Ela é como fogo, uma chama que chama todos os sentidos, todos os sons para si mesmo ao círculo, para que todos saibamos escutar; é transformação! Acessar: < https://www.instagram.com/ tv/CM_W0jlnmdn/?utm_medium=copy_link > PALAVRA BRINQUEDO: como os indígenas, brincamos com as palavras e criamos PANDEMIA, o grito de resistência na voz dos professores. Produção Programa de Extensão Piá 2021. Acessar: < https://soundcloud.com/ podiquestim-ufrgs/pandemia > ESCUTA? Para os indígenas, a escuta é o desenho da memória. Ouça a história do povo mbya-guarani na voz da professora Bianca Oliveira Cardoso. https://www.instagram.com/tv/CBRLza5pcpc/?utm_medium=copy_link SOM DO BARRO: como o joão-de-barro, colocamos a mão no barro e conhecemos a produção de cerâmica dos indígenas, bem como os instrumentos musicais confeccionados por Augusto Vargas. Professora Tais Luiz Cortigaz https://drive.google.com/file/d/1GaJb37GuCg8UBccsoKCmeDe7NR_3ll75/ view ?usp=sharing O SOM DA FLORESTA : ouvindo nossa terra brasilis, professora Paula Emenke. Acessar < https://drive.google.com/file/d/1y2hp0BlxDiFpIvwodbp7 WmbdFltODZ0E/view?u sp=sharing > MARACÁS: observando sementes e construindo instrumentos. Professora Tais Luz Cortigaz. https://drive.google.com/file/d/1B9irT3sjPAmgvctGfhrLq7RBIsRflYLR/vie w?usp=sharing Tico-ticos do Sul: Pó di questim! Uma série de podcasts que apresentam os tico-ticos gaúchos, narram o conto do tico-tico e tocam o chorinho Tico-tico no Fubá de Zequinha de Abreu. Produção: Programa de Extensão Piá 2021. 1 )https://soundcloud.com/podiquestim-ufrgs/tico-tico-no- sul?in=podiquestimufrgs/sets/choro 2 )https://soundcloud.com/podiquestim-ufrgs/conto-do-tico-tico 3) https://soundcloud.com/podiquestim-ufrgs/tico-tico-no-fuba Para saber mais MENEZES, Ana Luisa et all. Nhandereko Kue Kyringue’i Reko Ra: nossa história para crianças. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2015. Disponível em: https://issuu.com/imprensa.livre/docs/nossa_hist__ria Referências KAMBEBA, Márcia. Saberes da Floresta. São Paulo: Jandaíra, 2020. KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. SKLIAR, Carlos. A escuta da diferença. Porto Alegre: Mediação, 2019. CORPO A DANÇAR: SOMOS: MÚSICAEM ESTADODE ENCONTRO
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