Revista Sesc Arte e Educação 2023
15 Revista Sesc de Arte Educação vol.3 2023 EDUCAÇÃO INFANTIL PY ´ A TYTYA Batida do Coração (Fonte Museu UFRGS) Guarani. O som vital que vem das pessoas e dos outros seres do cos- mos e ao mesmo tempo produz as pessoas e o cosmos. Sendo condi- ção central e possibilidade de início de vida, construção das pessoas e seus corpos, das relações, de produ- ção de conhecimento, de memória, de trocas com outros Guaranis, ou- tros povos originários e não indíge- nas o som vital é tocado, cantado, dançado, rido, chorado, falado etc (SILVA, 2022). Perseguimos e fomos reconhe- cendo os pássaros que cantavam em nossa janela. Escutamos o Rio dos Sinos que ficava do lado da es- cola, cantamos ao redor daquela árvore grande, a figueira do pátio. Brincamos com o pilão, fazendo a fa- rinha de milho ao entoar o canto de trabalho indígena que aprendemos com Brincantinho conta histórias, As serpentes que roubaram a noite de Daniel Munduruku (2001) (1) : ACORDA MAMÃE VEM VÊ A PANCADA DO PILÃO BATE A PANCADA DO PILÃO BATE ACORDA MAMÃE VEM VÊ Quanta emoção ao nos aproximar da cosmologia de alguns povos ori- ginários que vivem aqui pertinho: os Xokleng, os Kaingang e os Mbyá Guarani. O alerta de Katuí se fez res- sonância com Gilberto Gil: manter de pé o que resta não basta, vamos ser refloresta (2) . Assistimos o vídeo da canção Refloresta (GIL, 2021). Des- cobrimos que as sementes carregam as informações de cada planta e que dentro de cada uma há nutrientes que são capazes de mantê-la viva até que encontre um ambiente propício a sua germinação e crescimento. Investigamos diferentes sementes na escola, suas texturas, tamanhos, cheiros e sonoridades. Separamos essas sementes colocando-as em di- ferentes cestos ajaka , que tem valor simbólico, espiritual e cultural para os guaranis. Os grafismos utilizados em suas cestarias são um jeito de com- preender o Nãndereko , o jeito de ser guarani. Estudamos o grafismo indí- gena e percebemos que os códigos e seus significados contam histórias e vivências de determinado povo. Conhecemos o PY´A TYTYA que sig- nifica: batida do coração. Grafismo representado nos elementos que são oferecidos como presentes as preten- dentes pelos Guaranis Mbyás. Construímos um Mbaraka Mirim (chocalho) com o fruto da Timbaú- va (popularmente chamada de ore- lha-de-macaco). Semeamos! Plan- tamos! Cuidamos de nosso plantio. A história das sementes foi tema de grande conversação entre as crian- ças. “Somos sementes dos nossos pais (...) e... como sementes temos fases de vida” , disse Tainá (5 anos). Dançamos e cantamos na língua de Kiringué (das crianças) e de seus mestres kyringüé ruvixá para exaltar o sagrado nascer do sol, cantar dos pássaros e do barro que se amolda em cerâmica. As crianças passaram muito tem- po envolvidas na temática indígena. O encontro com o Curupira (guardião da floresta) foi inevitável. Elas se en- volveram demais no espírito e nos mistérios do personagem. Segundo Roger Mello (2022), as descrições do Curupira variam dependendo da tradição e da região, com um olho só ou não, com cabelo vermelho ou nenhum cabelo, dentes azuis muito altos ou pequenos, mas uma coisa não muda: os pés sempre virados prá trás (para confundir os caçadores) e sempre envolvo em travessuras. Cer- to dia Geovana convida “sora vâmo fazê uma música?! Com a Katuí e o Curupiiiiiiraaaaaa?” (fala com voz as- sustadora). O convite é feito a toda a turma que prontamente se envolvem na atividade. O som e a alegria tomam conta da turma. As crianças foram inventando 1 VELASCO, Cristiane; RODRIGUES, Mika. As serpentes que roubaram a noite. Brincantinho Conta História. Itaú Cultural. Instituto Brincante, 2020. Disponível em: https://bit.ly/3t4js5P. Acesso em jun 2023. 2 Disponivel em: https://bit.ly/465I113
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