Revista Sesc Arte e Educação 2023
Estar à deriva no contexto da arte não significa perder-se, mas permitir-se. Isto é, colocar-se em estado de presen- ça atenta ao que a experiência estética permite exercitar e conhecer. É também abrir-se ao que suscita a partir deste encontro, pois a arte é responsável por estimular nossas capacidades inventi- vas e de interpretação criativa. Somos seres simbólicos e nos compreendemos a partir das estórias, das metáforas que criamos para compreender aquilo que nos interpela. Narrar nossos percursos por meio da arte configura, portanto, o mote do material apresentado a seguir. Nesta edição, os textos reunidos pre- tendem ativar olhares para as relações com as artes em suas variadas lingua- gens e perspectivas. Diferentes regiões e contextos do país nos dão a conhecer os distintos matizes que constituem a experiência artística no cenário peda- gógico contemporâneo, seja no ensino formal e não formal. É também por meio deste compilado de vozes que temos acesso a um rico panorama de expe- rimentações artísticas com crianças, adolescentes e jovens, atravessadas pela valorização do patrimônio local das cidades, bem como da emergência das lutas sociais para além das vivências estéticas. 4 Revista Sesc de Arte Educação vol.3 2023 Escute o artigo INCIDÊNCIAS E DERIVAS NAS ARTES: (QUANDO) A CIDADE, A RUA E A EDUCAÇÃO SE ENCONTRAM A partir dos eixos Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Es- paços não formais e Diálogos com Ar- tista, a Revista SESC Arte e Educação apresenta quinze textos que entrecruzam saberes da experiência evidenciando percursos singulares e também coletivos como possibilidade para uma educação humanizadora, sensível e atenta às rei- vindicações atuais. Questões políticas e estéticas nas escolas, nas ruas e nas ci- dades, configuram o motor que dinamiza e atravessa os textos que seguem em for- ma de artigos e relatos de experiências. Da fotografia às grafias individu- ais, percursos que perpassam brin- cadeiras e exploração material junto às infâncias, acolhem também as an- gústias juvenis diante das tragédias humanas. Por meio de diferentes vias, temos acesso a outros modos de acionar a arte e impulsionar suas ressonâncias na educação, seja por meio da experimentação ou da res- significação de obras já consagradas pela hegemonia ocidental. Tanto os relatos de experiência como os artigos que compõem este dossiê, abordam, ora a presença infantil dentro de espaços expositivos formais, ora a movimentação poética dos corpos em espaços não formais, como a rua e a paisagem urbana. Há nestes trajetos o desejo de valorização da produção artística local, do sentido de pertencimento e reconhecimento do patrimônio cultural ao qual se inserem. Em um dos relatos, a produção de maquetes com materiais alternativos para dar conta visualmente daquilo que as crianças percebem em seus deslo- camentos pela cidade buscam acionar relações afetivas por meio de constru- ções efêmeras a fim de compreender e estabelecer relações entre o corpo e o espaço. Outro exemplo é a proposição inspirada em elementos das culturas indígenas, afro-brasileiras, bem como da fauna local como convite a estabele- cer relações entre o grafite presente nas ruas da cidade em diálogo com a pro- dução simbólica produzida pelos povos originários, no intuito de potencializar o olhar curioso das crianças para as dis- tintas culturas. Festa na Floresta, relata percursos de estimulação sensorial, visando amplifi- car narrativas subalternas ao trazer para a cena cantigas oriundas das matrizes indígenas e africanas. A dimensão nar- rativa utilizada junto às crianças ressalta a potência da cultura popular como ati- vadora do pertencimento, da valorização de si e do outro. Brincar com as cores da cidade, cirandar e devolver ao corpo suas potências enquanto produtores de movimento e de pulsão de vida. A roda como metáfora da coletividade, do co- nhecimento popular que se produz jus- tamente a partir da sua circularidade e faz referência a importância da memória, permite que nossas narrativas permane- çam vivas e protegidas como patrimônio cultural. Reconhecer, valorizar e aprender com as culturas locais, são verbos que transcorrem as distintas práticas artís- tico-pedagógicas relatadas, bem como os artigos que perpassam as distintas linguagens: das artes visuais, da dança, da música e das artes cênicas. São fa- zeres e experimentações atravessadas
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