5 atirou no clássico “sofá do Garagem” e ficou ali escutando os covers alucinados e bebendo Polar quente até, sei lá, umas 4h da manhã. É só isso. Apesar de todas as coisas insanas e extremas que aconteceram naquele lugar, apesar dos Bailões do COL, dos Cinemeandos e dos shows antológicos das mais perver- sas bandinhas do underground gaúcho, é dessa noite que melhor me recordo. Se soou sem graça, é porque o leitor não tem coração e nunca pisou no chamado Antigo Garagem Hermética. Porque essa noite representa o que o Garagem representou para a minha geração e para as duas ou três ge- rações de chinelos que me precederam em Porto Alegre: era uma sala de estar que nos recebia noite adentro e madrugada afora. Às vezes, fazendo cara feia, às vezes só na obrigação, mas nos recebia. (Percebam que uma definição de “lar” não seria muito diferente.) Uma espécie de casa para onde se ia não apenas na esperança de viver experiências limítrofes, terminar a noite “indo pra casa” de alguém, injetar rock e super-8 no pescoço e extravasar nossa alegria e desespero, mas para simplesmente estar. Era barato, era imprevisível e nos fazia sentir, mesmo nas noites mais geladas e fracassa- das, que a vida estava acontecendo e que valia a pena. Conheci apenas a última das muitas fases pelas quais o Garagem passou desde o início dos anos noventa até o glo- rioso ano de 2001, fases que estão narradas com vivacidade, humor e fúria neste livro. Na verdade, não entendo muito bem por que o Leo me convidou para escrever este prefá- cio, uma vez que minha figuração na história do Garagem Hermética só começa um pouco antes do capítulo 25 deste livro, em que fica claro que o papel da minha patota era o de ser a nova geração de jovens irritantes e empolgados que cumpriria o papel de atrasar um pouco mais a derrocada do bar. Nunca me alinhei muito bem à “vibe” predominante na-

RkJQdWJsaXNoZXIy NjI4Mzk=