LUÍS RUBIRA Vitor Ramil – Nascer leva tempo No corpo nu / da constelação Estás, estás / sobre uma das mãos E vais e vens / como um lampião Ao vento frio / de um lugar qualquer Nessas duas primeiras estrofes, portanto, o sujeito da letra é alguém que observa um astro na vastidão do universo e que o percebe próximo, devido à ilusão de ótica. Nas duas estrofes finais essa proximidade irá ganhar outra conotação, a começar pela terceira: É bom saber / que és parte de mim Assim como és / parte das manhãs Melhor, melhor / é poder gozar Da paz, da paz / que trazes aqui. Agora, o observador e o observado já não estão mais separados. Se até então a proximidade era devida a uma ilusão de ótica, nessa terceira estrofe (tal como Schopenhauer concebe o mundo que vemos como oriundo de nossas próprias representações) o sujeito da letra “sabe” que o fenômeno que ele vê fora é tam- bém parte dele, está nele. E como a letra traz uma primazia do poético sobre o especulativo, ele não busca explicações para o que “sabe”, pois permanece na certeza de um sentir (“melhor / é poder gozar / da paz, da paz / que trazes aqui”). Essa “certeza” do sujeito de que a estrela de algum modo é também parte dele, acaba por conferir um jogo mágico, de encantamento na última estrofe. Ele, por fim, “sabe” que também é visto pela estrela: Eu canto, eu canto / por poder te ver No céu, no céu / como um balão Eu canto, e sei / que também me vês Aqui, aqui / com essa canção. Com “essa canção” num disco lançado aos dezenove anos, Vitor Ramil demonstrou o quanto sabia fazer, e fazer bem, uma bela canção. Foi com o ál- bum Estrela, estrela que ele, ainda bastante jovem e de forma rápida, adentrou no cenário da música brasileira. Com o talento que possuía e as oportunidades que tivera não seria esperado por todos que com mais dois ou três discos ele chegasse ao “topo do sucesso”?

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