Olhando a cena é que eu me sinto vivo 1 Acrílico, plástico, aço, pessoas, asfalto, concreto, pedra, árvore, per- formance, comunicação, pertenci- mentos, sombras e contornos. Aqui, na cidade, somos todos interpre- tantes. Se for suporte: que formas verbais e visuais ela permite? Se for lugar: que relações ela estabelece? Se for tempo: como interage com nosso imaginário? Se for espaço: por que o peso é tão vertical? Talvez “a experiência da vida urbana no que ela oferece como expansão ou limite ao transformar a imaginação de seus habitantes” corresponda às infinitas possibi- lidades de pertencer a um lugar e poder usufruir dele geográfica e emocionalmente. Será que as pessoas estão cada vez mais se dando conta de que o tempo vai passar de qualquer jeito. Passar – o tempo – sem ser notado. Sem fazer parte. Sem sentido. Passar até pressa. Creio que a estratégia é mais a de procurar formas de tornar a vida experiência mapeada e lida. É de verdade uma indelicade- za o que fazemos todos os dias. Na cidade veloz e polifônica, nunca es- tamos em nós: estamos sempre um passo adiante. Uma espécie de tra- gédia do tipo “não posso viver sen- do igual a mim e no mesmo lugar.” Ora, então é preciso olhar as margens, os contornos e o que está ao redor. Ver e não perder de vista. Perceber que a rua sempre foi lugar social. Palco para todas as formas de expressão humana. Somos “nós”! Seja o lugar ou o não lugar de Marc Augé ou o lugar praticado de Michel de Certeau, o fato é que lá onde a rua inaugura a vida públi- ca possibilita também o encontro e novas estruturas narrativas à deriva. Habitar uma cidade exige colo- car parte de seu desejo para decifrá-la. A novidade talvez não seja apenas as maneiras diferentes de ocupar o espaço público, mas tudo o que significa e envolve o percur- so de transformação da experiência estética urbana em um elemento cotidiano praticado, oferecendo em por mais que todas as suas diferenças guardem afinidades significativas.

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