45 URBE | # 01/04 | CARTOGRAFIAS URBANAS Longes e dentros urbanos Existe uma motivação em se apropriar de suportes da cidade. É que a cidade é palco, é passarela, é vitrine autorizada ou não. Quando alguém fala, se dirige para outro, e se esse outro não vem até mim, como faço para ir até ele? A cida- de é meio, é fim, é conteúdo, é abstra- ção. É de onde surge e desperta a cria- tividade, a adaptação. É lugar de fluxos cognitivos. Consome escritas, imagens, ideias e reverbera leituras plurissignifi- cativas por onde alcança os sentidos. Tudo é sentido. Tudo é capturado. E pode eventualmente ser transforma- do em commodity . Não é nenhuma novidade que o mercado trata de levar para galerias o que se produz na rua ou o que se produz impregnado de cultura visual urbana. O fato é que, mesmo não sen- do novo usar o espaço público como lugar criativo e a ocupação de espa- ços o volume de ações de arte e têm sido crescente, contínuo e interativo. Interativo também porque o cidadão passa a entender e refletir sobre arte. Entende que pertence a uma cidade e, mais, para aonde vai leva e identifi- ca cidades que possui no imaginário e na realidade. Mesmo as cidades invi- síveis existem para gerar o sentido de pertencimento a um lugar. Pequenos detalhes que fazem viagens no tempo. Nos tempos: já que são vários lugares revisitados simultaneamente. Ordo ab chaos (Ordem a partir do caos) CartografiasUrbanas. Nãopor acasoeste é o tema da primeira edição da Urbe . O ponto de partida é convergência en- tre diferentes olhares sobre o urbano contemporâneo. Urbano local. Urbano global. A cultura visual urbana é múl- tipla e permite leituras subjetivas (ou não) e em todas as direções. Se partirmos da ordem em dire- ção ao caos, um exercício de gravidade, temos duas possibilidades. Na possibi- lidade 1 o ponto de vista seria compre- ender o mobiliário urbano como meio entre emissores e receptores. Mas e se invertermos? A possibilidade 2 seria to- mar a cidade (lugar praticado) como emissora, o cidadão ora como meio ora como receptor-emissor? Muito mais de conteúdo refle- xivo do que de opções decorativas, os textos procuram transportar o leitor ressignificando universos codificados a partir de existências, coexistências e contrariedades. Você pode ser muitas pessoas diferentes no mesmo dia [...] Isso é a nova metrópole 7 Em nossas metrópoles, artistas, intervencionistas, em coletivos ou mes- mo agindo de forma particular, estão produzindo em continuum . Catalogar todas as atividades é uma ousadia que dispensamos. Nosso interesse não é de registro dos acontecimentos, mas de práticas e dimensões sociais. Seja por meio de nossa percepção do espaço/ tempo, seja pela mutação dos códigos e das linguagens manifestada em ela- borações simbólicas. É a própria cultura visual urbana e contemporânea que se refaz em um processo contínuo de mul- tiplicação e hibridização de meios. Nos- so esforço é mais o de interpretante! Vitor Mesquita é formado pela UFRGS em Artes Plásticas – História, Teoria e Crítica de Arte com especialização em Economia da Cultura PPGE/UFRGS. Designer gráfico e editorial na Ideativa Cultural. Diretor editorial da Pubblicato Editora e coordenador do projeto Pubblioteca (direito autoral/domínio público). notas 1 MESQUITA, Vitor. Belo caos repotencializado . Revista Artesesc, nº6, pp. 50-53. 2009. 2 FLUSSER, Vilém. O mundo codificado . CosacNaify, 2010. p. 54. 3 FLUSSER, Vilém. O mundo codificado . CosacNaify, 2010. p. 82. 4 Paul Valéry. 5 Marcovaldo não tem olhos adequados para semáforos, cartazes ou vitrines, signos da vida urbana e da sociedade de consumo. Mas está atento aos cogumelos que brotam no ponto do bonde, ao mofo nas bancas de jornais [...]. 6 Albert Einstein. 7 MassimoCanevacci [“Nomadismo”], em O Estado de S. Paulo, São Paulo, 2-4-1995, p. C-12 (Coletado no Cesad, FAU-USP).

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