44 URBE | # 03/04 | FOBIAS URBANAS NOTAS 1 Cetic – é o centro responsável pelas pesquisas de TI do Brasil. A base da pesquisa referenciada é de 25 mil domicílios. 2 Draw Something e Song Pop – dois jogos que viraram febre nos smartphones e tablets. LUÍSA KIEFER Ao se referir ao modelo Panópti- co de Bentham, Michel Foucault reflete a respeito da visibilidade como forma de controle. Graças ao jogo de luz que se cria devido ao modelo arquitetônico de uma torre central, circundada por um anel no qual estão situadas as celas, com janelas de ambos os lados, um único vi- gia é capaz de acompanhar, pelo movi- mento da luz e sombra, a presença dos encarcerados. Partindo da lógica de que a iluminação permite a vigia, a visibilida- de passar a ser, então, uma armadilha. Ao pensarmos sobre os dias atu- ais, da mesma forma que Kirn propõe a ideia de uma vigia por meio de little bro- thers, tornamo-nos também vigias de nossas próprias vidas e dos outros. Caí- mos na armadilha de que a visibilidade nos permitiria algum tipo de poder. Em 1927, Fritz Lang, no seu filme futurista Metropolis , marco do cinema expressionista alemão, apresenta o ho- mem operário escravizado pela máqui- na e por um senhor, dono da cidade, detentor do poder. Naquela época, as indústrias começavam a se automa- tizar. Hoje, tornamo-nos escravos das telas por vontade própria. Tornamo-nos operários de nós mesmos. Classe traba- lhadora de uma mesma indústria: a in- dústria da imagem e de uma sociedade calcada na visibilidade. Ainda, uma cena notável do filme: no momento em que o mundo subter- râneo começa a se revoltar, o dono da cidade fica a par da situação e controla de longe os acontecimentos, por meio de videoconferência com um de seus empregados. A tela, ali, era um meio de controle. Hoje, estamos prestes a passar de controladores para controlados. No cibermundo hipertélico, o usuário tem acesso imediatamente a um exces- so de informações desordenadas e não hierarquizadas; ele tem a liberdade de se projetar onde quiser, de aprender, de olhar, de abrir seu caminho pesso- al. O problema está, naturalmente, em saber exercer essa liberdade nas novas condições de um sistema proeminente, em uma Ecranópolis que alguns temem que, como a Metropolis de Fritz Lang, se transforme em um sistema totalitário, mais escravizante que libertador dos homens. (Lipovetsky e Serroy) Ecranocracia ou a ditadura das telas Aceitamos de tal forma a presença das telas que as deixamos penetrarem até mesmo no nosso espaço íntimo. Hoje, um encontro privado compartilha o momento de desfrute, com aqueles que nos vigiam. Pode parecer exage- rado assim registrado no papel, mas a atenção do outro passou a competir com a atenção dada ao bem eletrônico. O mais importante é estar, ou registrar e mostrar aos outros que esteve? Deixamos as telas eletrônicas e as redes tomarem conta. Tornamo-nos dependentes das telas que nos cercam. E elas não exercem um poder ditatorial, estatal ou disciplinador, como sugeria o modelo panóptico de controle ou a sociedade máquina de Fritz Lang, ou o Big Brother de Orwell. Mas, sim, nós Panóptico de Bentham

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